Rio-Santos ainda em obras: Moradores da Costa Verde reclamam das péssimas condições da rodovia federal
A rodovia Rio-Santos (BR-101) - no trecho que corta a região da Costa Verde - está se tornando mais precária a cada dia. Deslizamentos de terra e buracos na pista têm dificultado a passagem na estrada federal. Somando ainda com a imprudência dos motoristas, a Rio-Santos tem sido alvo de altos números de acidentes, inclusive atropelamentos. Para resolver o problema, autoridades se reúnem no intuito de buscar soluções.
- Foi-se o tempo em que a rodovia era motivo de orgulho para quem passava por ela. Antigamente, a estrada era caminho de muitas pessoas, um local que admirávamos, que trazia consigo toda uma história importante, tanto para o Rio quanto para Santos. Hoje em dia é mais uma estrada cheia de buracos e barrancos caídos - disse o aposentado Roberto da Mota.
Desde o ano passado muitas encostas caíram na rodovia e afetaram partes importantes da pista. O caso mais grave foi na altura de Garatucaia, onde parte de um barranco caiu e causou transtornos a muitas pessoas. O trecho precisou ser interditado muitas vezes. No intuito de solucionar o problema, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) realizou, durante nove meses, uma obra de contenção na localidade. Porém, com a continuação das fortes chuvas, o departamento registrou outro ponto crítico com novas quedas de barranco entre o bairro e Monsuaba, sem contar os demais pontos de deslizamento de terra no trecho de Mangaratiba a Paraty, que chegam a mais de quinze.
- A Rio-Santos parece uma bomba-relógio, é só chover um pouco além do normal que a terra já começa a descer e invadir a pista. Quem passa pela Costa Verde vê de perto como a estrada está ruim, cheia de buracos, deslizamentos e de pontos desnivelados, dentre outros problemas. A rodovia está precisando de ajuda urgentemente - destacou o motorista Júlio Lima.
Atenção redobrada
Devido aos constantes problemas na rodovia, agentes da Polícia Rodoviária Federal ressaltam que os motoristas devem redobrar a atenção ao passar pelos trechos com deslizamentos ou buracos.
- É bom que antes de passar por esse trecho da BR-101 os motoristas se informem sobre as condições da estrada, principalmente em dias de chuva. É importante que os motoristas sejam cautelosos ao longo da rodovia para que não haja mais transtornos - ressaltou o inspetor da PRF Renato Regly.
O trecho da Rio-Santos localizado na entrada de Paraty sempre foi alvo de muitas reclamações. Segundo os motoristas, a pista está em péssimas condições, principalmente por causa das últimas chuvas.
- A impressão que tenho é de que a rodovia não passa por reforma há um bom tempo, porque qualquer coisa que acontece ela se "desmancha". Na porta de Paraty, então, é uma vergonha. São várias lombadas totalmente desniveladas, o asfalto está simplesmente sumindo e a cada 500 metros tem um deslizamento. Será que o governo vai apenas assistir de camarote a estrada se destruindo? - indagou a professora Maria Cláudia Olives.
Condição da estrada prejudica Paraty
Após muitas reclamações, o Paraty Convention & Visitors Bureau deu início à coordenação do "Grupo de Trabalho - BR-101 Livre", que surgiu diante da necessidade de uma solução final para os constantes fechamentos da rodovia Rio-Santos devido aos deslizamentos de pedras que acontecem desde o ano passado. Segundo o grupo, os deslizamentos têm afetado uma das mais importantes atividades econômicas do destino - o turismo -, e o Paraty C&VB é responsável pela divulgação da cidade através, por exemplo, da realização de vários eventos no calendário cultural do município. Porém, a atual fragilidade da infraestrutura de transporte rodoviário que compõe o Produto Turístico de Paraty vem inviabilizando por completo todo o trabalho realizado não só pela entidade, mas por empresários e instituições locais ligadas direta e indiretamente ao turismo. Devido à falta de um acesso seguro e confiável, muitos turistas têm cancelado suas viagens à cidade e, no intuito de resolver essa situação, a iniciativa está realizando constantemente reuniões com autoridades municipais e estaduais.
- O objetivo do grupo de trabalho é conseguir que as autoridades atentem para a gravidade da situação da BR-101, que busquem uma solução definitiva e que nos convençam que a solução encontrada seja definitiva, ou seja, que todos os pontos críticos da estrada sejam contemplados com obras robustas e não com meros paliativos. Afinal, Paraty e Angra dos Reis não são apenas destinos turísticos indutores, mas que têm nos seus quintais duass usinas nucleares. Não podemos mais ficar dessa forma - disse o diretor executivo do Paraty C&VB, Dax Goulart.
Acidente nuclear, temor constante
Além dos diversos transtornos que a péssima qualidade da rodovia resulta, os moradores das três cidades da Costa Verde - Angra, Paraty e Mangaratiba - estão preocupados com a dificuldade na evacuação no caso de um acidente nuclear.
- Eu sinceramente não acredito nessas simulações de evacuação de moradores, que apenas são feitas a cada cinco anos e que, quando realizadas, são muito fracas. No caso de um vazamento em uma das usinas temos poucas opções de saída para fugir. Uma das rotas de fuga seria a Rio-Santos, que está em péssimas condições de manutenção e cheia de buracos - destacou o presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Frade, Evandro Vieira.
Conforme incluindo no Sistema de Proteção do Programa Nuclear Brasileiro, a Eletronuclear tem por obrigação cobrar soluções imediatas no caso de bloqueio da rodovia. Por isso, a estatal informou que está acompanhando de perto todas as medidas feitas pelo Dnit para solucionar os principais problemas na estrada.
Péssimas condições da rodovia e imprudência resultam em acidentes
Além dos transtornos gerados, as más condições da Rio-Santos têm afetado diretamente no alto índice de acidentes do trecho que corta a região da Costa Verde. A imprudência também é fator predominante nos números: Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, 90% dos acidentes registrados na rodovia ocorrem devido à imprudência dos motoristas. Em 2009, a PRF contabilizou 1.022 acidentes - com 43 mortes - na região. Em 2010, até o mês de setembro, foram registrados 925 acidentes, com 49 óbitos.
A imprudência dos motoristas na Rio-Santos também se destaca no número de atropelamentos. Um levantamento feito pela Polícia Rodoviária em Angra dos Reis apontou que o número de mortes por atropelamento na rodovia aumentou de 2009 para 2010 no trecho que corta a cidade. Segundo os dados, em 2009 foram 63 atropelamentos, sendo 33 feridos leves, 30 feridos graves e dez mortos. Já em 2010 a PRF registrou 37 atropelamentos, com 17 feridos leves, 13 feridos graves e 12 mortos.
A estimativa confirma as constantes reclamações de moradores dos bairros localizados às margens da rodovia. No bairro Sapinhatuba I, por exemplo, o risco de atropelamento é constante. Há mais de quatro meses parte da passarela existente no trecho da Rio-Santos caiu, e toda a estrutura precisou ser retirada. Sem uma passagem adequada, os pedestres têm se arriscado para atravessar a pista.
- Sem a passarela ficou muito mais difícil atravessar. Nosso bairro tem muitas crianças, idosos e deficientes que estão sofrendo com a situação. Todos os dias, e em vários momentos, estamos arriscando nossas vidas para conseguir atravessar a pista. Alguém precisa lembrar que existem moradores no trecho que não podem se arriscar tanto assim - disse a moradora Vanuza de Sousa, de 43 anos.
De acordo com o levantamento da corporação, o bairro Japuíba é o local onde são registradas cerca 60% dos atropelamentos da rodovia.
O morador André Alves foi testemunha de um acidente que deixou uma mulher morta no ano passado. Ercy Leonardo da Silva, de 54 anos, atravessava a rodovia de bicicleta quando foi atingida por um ônibus da Viação Senhor do Bonfim. A ciclista tentou atravessar rapidamente a rodovia, e o motorista do ônibus não conseguiu parar o veículo a tempo. Morador da comunidade há mais de 20 anos, André ressalta que os atropelamentos no bairro são comuns, principalmente devido à imprudência dos motoristas.